sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nirvana - Nevermind (1991)















O fenômeno desse disco provavelmente foi a última coisa realmente grandiosa no mundo do Rock, a ponto de representar uma geração inteira de jovens (nomeada na época de "Generation X"), que não aguentavam mais tantas bandas de hard-heavy-metal-glam-rock dos anos 80. Não que esses estilos fossem ruins, mas eles estavam em todos os lugares e meios e veículos de comunicação na época.

E exatamente no mesmo ponto onde se entrava numa nova década, esse disco veio e fez com que a tendência musical no mundo inteiro mudasse também. Até então, quem havia promovido grandes mudanças no meio musical-ideológico tinha sido gente como James Jean, John Lennon, entre outros. Porém devido ao sucesso gigantesco de "Nevermind", Kurt Cobain entrou para o rol de artistas que falaram para milhões de pessoas o que elas precisavam ouvir, ou que precisavam de alguém que falasse publicamente por elas, de alguém que as entendesse em seu mais profundo âmago. De fato, a vida super conturbada por problemas familiares, depressão e drogas de Kurt influiu em seu suicídio em 1994. Mas que também sua música recebesse todas essas mágoas, fazendo muita gente se identificar e falar: "Esse cara está falando sobre mim! Acho que alguém me entende."


"Nevermind" foi o segundo álbum do Nirvana, e longe do preconceito de muitas pessoas, ele é considerado o melhor da banda e um dos melhores de todos os tempos. Não é à toa que tirou Michael Jackson do primeiro lugar na Billboard em 1991, vendeu ao todo 30 milhões de cópias no mundo inteiro (300.000 por semana em 1992), ganhou discos de Ouro, Platina e Diamante, e foi responsável por apresentar Seattle e seu estilo de vida, o movimento Grunge e o Rock alternativo ao mundo, fazendo milhares de pessoas a usarem casacos de flanela e bermuda preta surrada, pintarem o cabelo e ver os dias chuvosos e nublados de uma maneira mais "rock" de ser. Além de muitas bandas terem adotado um pouco da  estética de som sujo, angustiado e guitarras com microfonias, como Butthole Surfers, Stone Temple Pilots, Pavement, The Posies, Blind Mellon, entre outros. E até influenciou gente aqui no Brasil como Barão Vermelho, Titãs e Lulu Santos.

Com uma sonoridade mais comercial, diferente de "Bleach" - disco de estréia lançado pela SubPop em 1989 - que era mais visceral, "Nevermind" foi produzido por Butch Vig (que é baterista do Garbage) e a banda, que teve mudanças em sua formação: o baterista Chad Channing saiu e deu lugar ao atual líder do Foo Fighters Dave Grohl. Mas o mais curioso é que o Nirvana não era de Seattle propriamente, e sim de uma cidade há 160 kms daquela, chamada Aberdeen. Em termos de distância, eram lugares que havia uma boa acessibilidade, mas comportamentalmente e psicologicamente, as duas cidades eram extremamente diferentes.


"Nevermind" foi lançado pela gravadora Dave Geffens, que era a mesma do Guns 'N Roses. Isso causou atrito entre os líderes Kurt Cobain e Axl Rose, porque o som sujo do pós-punk de Seattle fez com que o hard rock de Los Angeles praticamente entrasse em falência. Mas ironicamente, foram os dois últimos grandes ídolos do rock 'n roll.

E quem ouve esse disco, logo de cara se depara com o maior sucesso da década de 1990 e um dos hinos da História do Rock, que é "Smells Like Teen Spirit". É um baita som pós-punk cheio de adrenalina, com solo simples porém marcante, e um refrão que colou pra eternidade por ser exatamente como o solo: uma ótima e simples ideia, que não ocorre todo dia.

Não fazendo menos, "In Bloom", que foi regravada do primeiro álbum um pouco mais "pasteurizada", ainda sim é uma música digna de aclamação: um rock arrastado e intenso, com momentos de clímax e falando sobre os fãs não-roqueiros do Nirvana. "Come As You Are" é sombria e austera, com um verso onde Kurt Cobain fala não ter uma arma. Nesse hora nota-se como a rouquidão de sua voz combina perfeitamente. Somente um detalhe que quase ninguém sabe: o riff dessa música foi roubado de "Eighties", uma música do Killing Joke, que por sinal é um grande influenciador do Kurt!

"Breed" tem toda a energia de uma banda punk, com bateria surrada, vocal rouco e direto, e muita guitarra dissonante e estridente. É aqui e em outras partes do disco que percebe-se a grande influência que o Sonic Youth, Flipper, Big Black, Killing Joke e até Sex Pistols fizeram sobre Kurt e sua trupe.
 "Lithium" é um dos maiores sucessos da banda, por ser uma música emocionate. Kurt começa cantando calmamente versos como "Estou tão feliz/porque hoje eu encontrei meus amigos/ em minha cabeça", pra explodir em um refrão cheio de regojizo, um verdadeira exaltação.

"Polly" é uma balada voz, violão e baixo, onde a letra foi inspirada em um fato real de sequestro ocorrido na época. Um maníaco raptou uma menina e a torturou, porém ela soube acalma-lo, meio que fazendo o que ele queria e através disso conseguiu fugir. Uma música simples e bonita. O mais puro punk-hardcore imperam em "Territorial Pissings". É intenso, espancado, sujo e gritado. Digno de show pesado.

Em "Drain You" a batida tem uma certa levada anos 60 nos versos, em um refrão mais pesado. Mas além disso, o que realmente chama atenção nessa faixa é um momento de suspense-apreensão que tem no meio. As pancadas de guitarra nessa hora tem um efeito de chorus e reveb dentro da medida. Lembra um tanto The Who.
"Lounge Act" e "Stay Away" mostram como o Nirvana, mesmo buscando uma sonoridade mais pop, ainda tem Q visceral. O refrão da segunda citada é colante, parece chiclete.

Aliás, nesse álbum o que marca são os refrões. Vide "On A Plain": uma bela canção com boas guitarras pesadas onde o coro feito por Kurt e Dave Grohl é perfeito, muito bonito.

Com relação a "Something In The Way", foi a música mais inusitada ao se gravar. Segundo Butch Vig, a banda não conseguia achar o jeito certo de grava-la. Então Kurt sentou no sofá do estúdio e disse que deveria soar assim. Aí ele pega o violão e começa a tocar de maneira suave, calma, meio melancólica. Butch ficou maravilhado com o que ele fez e falou para continuar a tocar exatamente como ele estava fazendo. Nisso ele levantou-se, desligou o telefone, o ventilador, fechou a janela e pôs um microfone estrategicamente perto do violão de Kurt e mandou-o fazer de novo, da mesma maneira sem mudar nada. Apesar do que Dave e Kris Novosellic depois sofreram no estúdio para gravar por cima de uma base de violão sem metrônomo, disse Butch em uma entrevista.

É bem interessante ver como se trata de uma história ainda recente para o mundo da música. Que através de um disco, a cena que já ocorria em uma cidade fica conhecida mundialmente e fez jus a outros nomes que já eram cultuados em Seattle. Gente como Soundgarden, Pearl Jam, Alice in Chains, Melvins, Screaming Trees e alguns outros aproveitaram a grande onda e foram praticamente puxados à fama. Mesmo passados 20 anos da ascensão do Nirvana e do grunge, foi um momento onde a música ainda permanece intocada, influenciando até hoje muitas pessoas.

Um comentário:

  1. Ótimo texto, Marcelo! Gostei das observações sobre o momento em que determinada música foi criada, assim como das contextualizações da época.

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